"O MAIOR INIMIGO DA CRIATIVIDADE É O BOM-SENSO" Picasso. Sem pretensões, que não sejam as de mostrar;

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terça-feira, 1 de julho de 2008








"Sob o manto diáfano da fantasia, a nudez forte da verdade"...

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O Largo do Carmo e eu !! (1)


O Largo do Carmo e eu !! (1)

Tenho muito da minha vida ligada a este belo, pitoresco e cheio de história Largo do Carmo, sito na Baixa-Chiado " nesta Lisboa que eu amo".

De forma singela, narrarei algumas, talvez ingénuas, histórias que guardo com ternura no livro da memória.

Escola Primária nº 73

Aos sete anos iniciei as primeiras letras na Escola Primária nº 73, ficava no lado oposto e mesmo em frente á antiga escola Veiga Beirão, hoje voltou á primitiva designação de Palácio de Valadares.

Não recordo o número da porta, mas passava-mos por uma Engraxadoria-Sapateiro (daquelas com cadeirões num estrado elevado onde os clientes se sentavam para engraxar) subia-se ao primeiro andar, e ali estava o que viria a ser o meu tormento durante algum tempo !!.

Foi lá que me matriculei na "Pirata Assada" assim chamada na gíria à 1ª classe da então "Instrução Primária".

Dessa malfadada escola, lembro um episódio, que levou a que meus pais me tirassem desta e transferissem para a escola nº 78 na Praça da Figueira - Rossio.

A professora, Dª Laura era o pior que se possa imaginar como pedagoga, era uma autêntica déspota, como técnica de ensino, nem deu tempo para avaliar.

Rude e anafada em extremo, semeava o pânico na maioria da miudagem de sete anos, que pela primeira vez se via fora da alçada dos pais.

O seu argumento principal e creio que único, era uma grossa e escura régua, á qual dava uso em quantidade e qualidade, pois as réguadas eram desferidas com tanta força e em tal quantidade, que as mãos ficavam vermelhas e quentes.

Para aliviar as dores, descobrimos o truque de agarrar nos ferros frios das carteiras para conseguir um pouco de alívio...o que resultava mesmo.
Ninguém imagina o que custavam estes castigos, principalmente de Inverno.
É dificil hoje em dia conceber tais métodos educacionais, mas o que é facto é que assistimos ao reverso da medalha diáriamente !!

Ao fim de poucas semanas, tinha contraído tal trauma e medo de ir todos os dias para aquela maldita escola, que me lembro subir a Calçada do Carmo com uma tristeza enorme e lágrimas nos olhos.
Um dia deu-se o percalço...os nervos e o medo refletiam-se-me no sistema intestinal que não conseguia controlar, e depois de mais uma vez ter levado uma reguadas, fiquei de tal modo transtornado que pedi insistentemente para ir á casa de banho, mas a víbora da Dª Laura, numa atitude provocatória, disse-me que só iria no fim da aula, e em minha casa !! chorando, aleguei estar aflito...mas de nada serviu.
Resumindo..."fiz nas calças" ali, mesmo no meio da aula...e de que maneira !!...foi a minha grande humilhação pública aos sete anos.

Chamada minha mãe á escola (morada a duzentos metros) e perante o sucedido, ficou tão revoltada que disse á professora que me ia tirar da escola.

Asim aconteceu e deu-se a rápida mudança para a escola nº 78 na Praça da Figueira, onde completei os quatro anos de escolaridade, indo depois frequentar o Liceu Passos Manuel.

Ainda hoje lembro...tão miudo...o que chorava, a vergonha que sentia e o que me custou o desconfortável trajecto até casa naquelas condições. Mãe sofre !!

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...Olhares em Bleau...

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O Largo do Carmo e eu !! (2)

















O largo do Carmo e eu !! (2)

O "Cavaleiro Andante"

Na capelista Bazar do Carmo, mesmo ao lado da Igreja da Ordem Terceira do Carmo, comprava as saquetas de cromos e cadernetas das colecções da moda, e todas as 5ª-feiras ia buscar a revista de banda desenhada "Cavaleiro Andante" muito em voga na época, a par com o "Mund0 de Aventuras".

Tem uma história pitoresca a assinatura semanal desta revista.

Tinha sete anos e diáriamente subia sózinho a Calçada do Carmo com destino á escola.

Vestia um bibe aos quadrados azuis e brancos, muito pentiadinho, e tinha uma mala de carneira clara com fivelas, um pouco grande para a minha altura e idade.

Todos os dias à hora que subia a calçada, passava por mim um indivíduo, que sempre que me ultrapassava, se virava para trás e me sorria.

Certo dia, abordou-me.
Perguntou-me o nome; quantos anos tinha; em que escola andava; onde morava etc. e em continuação de conversa, como viu que morava a poucos metros, deu-me um cartão de visita e pediu-me para dizer a meus pais se ele os podia visitar.

Lembro-me que com estranheza meus pais me encheram de perguntas, mas acederam, e um ou dois dias depois, na data combinada lá foi o senhor fazer a visita.

Resumindo...explicou que era funcionário superior da Companhia dos Telefones, no edifício da rua Nova da Trindade, tinha três filhos, vivia em Sintra etc. etc.

Referiu que como vinha da Estação do Rossio com destino ao trabalho, eu estava na sua rota diária e me achava tanta graça, por ser tão pequeno, parecer tão atinadinho e ter uma mala tão grande, que como prenda, decidiu oferecer-me uma assinatura perpétua na capelista Bazar do Carmo da revista o "Cavaleiro Andante".

Meus pais agradeceram, combinou-se que breve viria com os filhos buscar-me para passar um dia na sua vivenda em Sintra.

Chamava-se este "messenas" Carlos Parisson de Carvalho...nunca esqueci seu nome nem a sua figura e porte aristocrático.

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