A Leitaria Académica
A poucos passos da Veiga Beirão, esquina com o Largo do Carmo e a Calçada do Sacramento, existia a Leitaria Académica.
Era um dos poisos dos estudantes nos intervalos de aulas...e durante as aulas...pois naquele tempo o pessoal dava tudo para "gazetar".
Também. depois de um dia de trabalho a aturar chefes, patrões e clientes (e eles a aturarem-nos a nós), ir sentar-se numa carteira de escola a "empinar" matérias pouco interessantes que nada nos diziam (naquele tempo) e ainda por cima, ministradas por professores, muitos deles com cara de frete, a debitarem textos num tom monocórdico, não seria muito atractivo.
Um pormenor; Só tinhamos uma única professora...que além de ser uma mulher de coragem...era uma maravilha para os nossos olhinhos.
Da Leitaria, era seu gerente o sr. Grilo, e a mulher estava na copa.
Personagens não muito simpáticas, o que hoje até compreendo...não devia ser fácil trabalhar no meio de tanta algazarra, aturar tanta "gandulagem", ter que estar sempre atento com o que se comia e se tentava não pagar, isto diariamente e durante anos a fio !!
Houve um período que o serviço de mesas só era efectuado com pré-pagamento...o que até então nunca se tinha visto !! Passados anos, o casal já reformado, foi viver para muito perto de casa de meus pais, e falava-mos amiúde sobre aqueles tempos estudantis.
Estava sempre cheia, e ainda hoje parece que sinto o cheiro e paladar daqueles bolos acabados de chegar pela segunda vez no dia, da fábrica do Bairro Alto, invariávelmente por volta das 6 da tarde.
A grande loucura eram os Bolas com creme, as Pirâmides cobertas com chocolate e as Rochas.
Muitos anos mais tarde, na tropa, com camarada pasteleiro, vim a saber que as Pirâmides e as Rochas, eram feitas a partir das sobras de bolos, que depois de retirados os cremes, eram triturados, devidamente preparados e cheios de frutas cristalizadas.
Terminavam nas montras para regalo do nosso olhar e paladar.
Quem se importava de como eram feitas ?!.
Muitas vezes o nosso jantar, antes de ir para as aulas, era uma Rocha, dois copos de água e estava-mos preparados para qualquer combate.
Outro odor inesquecível...o do café de saco, sempre a fumegar da enorme máquina manual, aquecida a gás, cujos cromados e torneiras estavam sempre reluzentes.
Decerto que foi nesta "catedral" que me nasceram os apetites para a doçaria, á qual ainda hoje não resisto, e pratico com devoção.
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