"O MAIOR INIMIGO DA CRIATIVIDADE É O BOM-SENSO" Picasso. Sem pretensões, que não sejam as de mostrar;

Peças originais, Fotógrafos geniais, Artes antigas e actuais. Também fico esperando a sua visita nos novos Blogs http://comoze2.blogspot.com/.......http://comoze3.blogspot.com/

domingo, 9 de agosto de 2009

Raul Solnado



Raul Solnado, desde hoje, ficou um pouco mais longe de nós, mas não muito, pois permanecerá gerações na memória de muitos.

Trabalhei e circulei pelos cafés pertíssimo do Teatro Vilaret por ele construído e de quando em vez lá o via pelo café Monumental ou no Monte Carlo.

Quando assistia aos espectáculos, no seu aconchegável Teatro da Fontes Pereira de Melo, sentia sempre uma admiração enorme do seu estilo muito próprio de "estou, mas devagarinho e sem muitas ondas".

Deixa-me muitas saudades, pelo que foi e pelo que me proporcionou a mim e mulher com os seus espectáculos.


Na sua Biografia, há um trecho de eleição que só poderia ser "disparado" pelo Raul.

Numa das suas vária digressões ao Brasil, foi convidado para dar uma entrevista, e a certo ponto o entrevistador brasileiro perguntou-lhe se em Portugal, também se contavam anedotas sobre Brasileiros.

Raul Solnado, fez uma pausa e respondeu: - Acha que era preciso !! *****

Era um grande e sóbrio artista, um bon vivant que adorava a noite de Lisboa e muito aproveitou da vida, ele e os seus inseparáveis pares.
Viveu a sua ainda longa vida, bem vivida...

Uma derradeira homenagem ao Raul Solnado de todos nós, com uma máxima de Confúcio que me tem servido de lema pela vida fora, e que se encaixa perfeitamente ao homem que ele sempre foi.

"Quando eu nasci, todos riam só eu chorava.
Fiz por viver de tal modo, que quando eu morrer, todos chorarão, só eu rirei".


O seu epitáfio deveria ser a frase que celebrisou:
"Façam favor de ser felizes"

JJ ............................................................................
Um dos mais célebres representantes da velha geração de hu
moristas portugueses

Raul Solnado, a vida não se perdeu*

08.08.2009 - 17h54 Alexandra Prado Coelho

Raul Solnado (1929-2009), que morreu esta manhã, deixou gravado um último trabalho para a televisão: "As Divinas Comédias", uma série de quatro programas produzida pelas Produções Fictícias e pela Até ao Fim do Mu
ndo, para a RTP 1, apresentada por Bruno Nogueira e Raul Solnado - a mais jovem e a mais antiga gerações do humor em Portugal.

O primeiro irá já hoje para o ar, logo a seguir ao Telejornal.Seria uma história do humor em Portugal contada por um dos seus principais protagonistas.

Nascido em Lisboa, no Bairro da Madragoa, em 1929, Solnado começou a carreira como actor no teatro amador, na Sociedade Guilherme Cossul, em 1947.


Numa entrevista a Duarte Mexia, na "Pública", em 2002, conta como tentou ainda trabalhar na loja de móveis do pai, em frente à penitenciária – "não sabia o que queria ser na vida, sabia que queria ser actor, mas era uma coisa muito vaga".

Mas já nessa altura aproveitava todas as oportunidades para ir ver os espectáculos dos seus ídolos, Vasco Santana, João Villaret, António Silva, Laura Alves.

Quando começou a fazer teatro amador todas as dúvidas desapareceram, e acabou por comunicar ao pai: "olhe pai, vou para o teatro".
Foi. Em 53 estreou-se na revista com "Viva o Luxo", no Monumental.

E no final da década no cinema com os filmes "Sangue Toureiro" e "O Tarzan do Quinto Esquerdo".

Conta, na mesma entrevista, que no princípio do seu trabalho na revista dizia "pouco mais do que meia
dúzia de frases", e que foi o actor António Silva, que "era muitíssimo tímido", que lhe começou a achar piada e a puxar por ele.

Mas o grande sucesso surgiu em 1961, com as rábulas e, sobretudo, com "A Guerra de 1908", um texto espanhol adaptado para português por Solnado.

A história de um soldado que vai "bater à porta da guerra", editado em disco em 1962, torna-se um "best-seller".

Foi, recordava Solnado, "um grande salto, ‘o pulo do gato’", e, subitamente, uma popularidade "asfixiante" – tão asfixiante que o humorista teve que ir para o Brasil para poder respirar.
"Eu ligava o rádio e lá estava eu a contar histórias.
As pessoas convidavam-me para jantar e lá estava o disco, para eu ouvir. Sentia-me perseguido por mim mesmo".

O sucesso não se devia apenas ao facto de ser um texto “fabuloso”.

Portugal estava em plena guerra colonial e, mesmo falando sobre outra guerra, "o texto foi como um grito", e Solnado achava estranho que a censura na época o tivesse deixado passar.

"Os milita
res nos combates que tinham diziam as minhas frases, era como uma libertação".

Havia nesta história de uma guerra que fechava à hora marcada um lado de "nonsense" "que em Portugal nunca se tinha ouvido".

A popularidade foi tal que Solnado brincava dizendo que era “uma vítima da guerra".

O ano de 62 continuou a correr bem.

Venceu o Prémio de Imprensa para melhor actor de cinema.

Em 63 o sucesso continuou com o espectáculo Vamos contar Mentiras, com Florbela Queirós e Armando Cortês.

O público era exigente. Mais do que exigente: "Quando a peça acabava exigiam que eu contasse mais histórias. [...] Um dia não contei, estava cansado ou doente, já não sei, e apedrejaram-me a carrinha.

A guerra de 1908 e outros monólogos - Videoshttp://www.youtube.com/watch?v=Php8prfwg7Y

Foi horrível". Na ressaca do sucesso da "guerra", Solnado regressou ao Brasil - onde tinha tido uma experiência falhada em 1958 - e desta vez as coisas correm muito melhor.
"Entrei pela porta grande".

Em 1964 o actor e humorista tornou-se empresário, fundando o Teatro Villaret – na peça de estreia, em 1965, "O Impostor-Geral" foi o protagonista.


Passou a fazer tudo como queria - “escolhia desde o tecido, a cor da tinta para escrever a peça, como se traduz, até à forma como se fazia a publicidade do lançamento” - mas pagou um preço, com os credores a baterem-lhe à porta.
Os textos humorísticos continuavam a ser editados em disco: Chamada para Washigton (em 1966), Cabeleireiro de Senhoras (68), e no início de 69 a compilação O Irresistível Raul Solnado.

É então que surge o segundo momento marcante da carreira: o programa Zip-Zip, gravado no Teatro Villaret, apresentado por Solnado, Fialho Gouveia e Carlos Cruz, muda a televisão em Portugal.


Dura apenas sete meses, mas, em plena primavera marcelista, é uma “pedrada no charco”.
“Pela primeira vez um programa de televisão marcava a agenda das conversas dos portugueses”, recordava Adelino Gomes no Público em 2002.

O primeiro Zip-Zip foi gravado num sábado, 24 de Maio "perante uma plateia de amigos e curiosos que compraram um bilhete de entrada por dez escudos".

A crítica não poupou os elogios, e os autores recebem agradeci
mentos de pessoas na rua.
Intelectuais, escritores, artistas, figuras que nunca tinham tido oportunidade de falar na televisão, passaram pelo palco do Villaret naqueles sete meses que durou o programa cujo nome foi inventado por Solnado durante uma viagem ao Porto – um nome que era bom "precisamente porque não queria dizer nada".

E se na primeira gravação foi preciso convidar pessoas para assistir, nos seguintes os bilhetes esgotavam-se com enorme antecedência.

E as ruas de Lisboa ficavam vazias às segundas-feiras à noite.
O sucesso televisivo volta a repetir-se (embora com um impacto diferente, porque por essa altura Portugal já tinha mudado) em 1977 com o programa A Visita da Cornélia, em que a interlocutora de Solnado era a vaca Cornélia. Solnado continua a fazer teatro - "Há Petróleo no Beato" (1981) é um imenso sucesso – ao mesmo tempo que mantém presença na televisão.

Novamente com os amigos Fialho Gouveia e Carlos Cruz apresenta o programa O Resto São Cantigas, em que se recordam músicos da época áurea da música ligeira portuguesa, e mais tarde apresenta o
concurso Faz de Conta.

É protagonista da "sitcom" "Lá Em Casa Tudo Bem", mas é no filme "A Balada da Praia dos Cães" (1987), de José Fonseca e Costa, que revela o seu extraordinário talento como actor dramático. Em 1991 publica a sua biografia, "A Vida Não Se Perdeu", escrita por Leonor Xavier (que foi sua mulher durante 15 anos). Em 93 participa, ao lado de Eunice Muñoz na telenovela "A Banqueira do Povo" e continua a fazer teatro - nomeadamente a peça "O Magnífico Reitor" (2001), de Freitas do Amaral. Numa homenagem, em 2002, no Festival Internacional de Humor de Lisboa, no Tivoli, Carlos Cruz agradeceu ao amigo.

"Não temos o direito de lhe exigir nada porque ele nos deu tudo", disse. "Cinquenta anos, Raul, não é nada.

É o teu princípio". Seis anos depois, a nova geração do humor em Portugal ainda teve a ajuda dele para a ajudar a contar a história.

Notícia actualizada às 18h40* título da biografia do actor e humorista escrita por Leonor Xavier e publicada em 1991

In jornal Público Net


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