"O MAIOR INIMIGO DA CRIATIVIDADE É O BOM-SENSO" Picasso. Sem pretensões, que não sejam as de mostrar;

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domingo, 13 de fevereiro de 2011

ALAIN OULMAN - "Com que Voz" filme de Nicholas Oulman

http://www.youtube.com/watch?v=EJ-vM5xKxSk

Abandono - Amália cantou este fado escrito por David Mourão Ferreira e musicado por Alain Oulman sem conhecimento do subentendido da letra, pois na época da ditadura uma das formas de resistência, era Dizer e Escrever as verdades e amarguras de um povo, por analogias.

Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe, que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar.

Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite, numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.
Gentileza do amigo Raul P.S.http://www.youtube.com/watch?v=-GqpqnAKeSA


O génio do pai Alain Oulman transmitiu-se ao filho Nicholas Oulman.
Nicholas, fez-me muito bem por seu intermédio ver a homenagem feita ao pai, e eu nestes videos, recordar um ser humano de eleição que muito admirei como homem, como criativo como gentleman e com quem trabalhei e aprendi, quatro felizes anos na minha juventude.
Embora muito novo à época, tenho ainda bem presentes as figuras aristocratas de seus avós, suas tias e inclusivé a quinta com o palácio de maravilhosa fachada em azulejos florais, que são um deslumbramento.
JJ

Alain Oulman - Com Que Voz
Título original: Alain Oulman - Com Que Voz
De: Nicholas Oulman
Com:
Género: Documentário
Classificação: M/12
Outros dados:
POR/ISR/FRA, 2009, Cores, 109 min.

Um retrato de Alain Oulman (1928-1990), o homem que revolucionou o fado ao lado de Amália Rodrigues, num documentário realizado pelo seu filho, Nicholas.
Artista multifacetado, celebrizou-se pelo seu trabalho conjunto e continuado com a fadista, sendo responsável pela introdução de alguns dos maiores poetas e escritores lusos na canção nacional.
Mas há mais Oulman para além de Amália: nascido em Lisboa, no seio de uma família judaica tradicional de origem francesa, foi perseguido pelo regime de Salazar, foi agente e editor literário, engenheiro, fundou o grupo de teatro Lisbon Players e dirigiu em palco Eunice Muñoz ou João Perry... Homem apaixonado por causas, pela literatura e pela música, é recordado e comentado neste documentário por figuras como, entre muitos outros, Soares, Maria Barroso, Muñoz, Perry, Solnado, Manuel Alegre, Celeste Rodrigues, Fontes Rocha, Rui Vieira Nery, David Ferreira, Fernando Lopes, Jorge Sampaio, Zita Seabra ou Amos Oz.
O título do filme reporta a um álbum histórico, assim baptizado pelo fado homónimo, musicado por Oulman a partir de Camões: "Com que voz chorarei meu triste fado / que em tão dura paixão me sepultou / Que mor não seja a dor que me deixou / o tempo, de meu bem desenganado." Venceu o Prémio de Melhor Primeiro Filme no Doclisboa 2009 e foi seleccionado para o Festival Internacional de Cinema de Ourense.
PÚBLICO
Estreia hoje "Com Que Voz", filme sobre Alain Oulman, o homem que mudou a vida de Amália. Por detrás da câmara está Nicholas, o filho que queria conhecer melhor o silencioso pai.
"Com que Voz" ficou terminado mesmo em cima do DocLisboa, em 2009. Quando recebeu a chamada do director do festival a dizer que o filme fora aceite, Nicholas Oulman ficou radiante.
Mais contente ficaria depois da vitória, também ela inesperada.
"Era o meu primeiro festival, o meu primeiro documentário, foi uma grande surpresa." A espiral de sucesso do documentário sobre Alain Oulman, compositor, encenador, editor, empresário e pai de Nicholas, termina esta semana com a sua exibição comercial, também ela improvável.

Acha que as pessoas podem achar que "Com que Voz" é um filme sobre Amália Rodrigues?Podem confundir, mas só se não prestarem atenção suficiente - basta olhar para o poster do filme. É óbvio que Amália tem um papel preponderante no filme, mas essa parte é proporcional à importância que ela teve na vida do meu pai. Não me incomoda nada que para umas quantas pessoas este seja apenas "o documentário da Amália".

O filme está terminado desde Setembro de 2009. Como é revê-lo agora?Não me sinto envergonhado, o que é muito bom. Claro que mudava isto ou cortava aquilo mas não é um filme em que eu me sento e levo as mãos à cabeça: "Hei, o que é que eu fiz?" Não.
Fiz o filme com humildade e simplicidade, o filme que eu achava que tinha de ser feito. E bem vistas as coisas, não criei nada: a história é contada pelas pessoas que o conheceram. Eu sou apenas o mensageiro.

Porque decidiu fazer este filme?Sempre vi o Alain Oulman apenas como um pai. Não era "aquele tipo que fez aquelas músicas" ou "aquele editor que publicou isto e aquilo". Para mim ele era o tipo a quem eu tinha de mostrar as notas da escola, o homem que tomava conta de mim.
Uma figura paterna, somente. Mas um dia, o Museu do Fado decidiu fazer uma exposição sobre ele e pediu-me material. Apercebi-me que tinha muita coisa que poderia ser desenvolvida, e as pessoas à minha volta começaram a sugerir um documentário.
Cheguei então à conclusão de que queria conhecer o Alain Oulman não como pai, mas como ele era visto pelos outros.

Encontrou muitas diferenças entre a imagem que tinha do seu pai e a imagem que as outras pessoas tinham dele?Houve uma coisa que me marcou muito e tenho algumas dificuldades em perceber: o meu pai compartimentava tudo. Trabalhou com o escritor Amos Oz, por exemplo, e nunca foi capaz de lhe dizer, a meio de uma tradução ou num momento mais descontraído, que escrevia música.
O Amos Oz não fazia ideia que ele era compositor. Quando editava, o meu pai editava, quando compunha , ele compunha. Não misturava as coisas nem as pessoas. Outra coisa que também me apanhou de surpresa foi a maneira como ele tocou as pessoas com quem se cruzou.

Como assim?Ele foi para Paris nos anos 70 e morreu há 20 anos. Muitas das pessoas que falam no filme lembram-se de momentos que viveram com ele no início dos anos 60.
Ora isso foi há mais de 40 anos e está gravado de uma forma surpreendentemente nítida na memória deles. A emoção com que estas pessoas falam dele é sinal de que ele tocou de uma maneira muito forte estas pessoas - parece que viveram com ele uma vida toda, mas não foi mais do que uns anos na década de 60. Isto não acontece a qualquer um.

Em casa ele era reservado?Ele não era pessoa para chegar a casa e começar a contar o dia de trabalho. Fui viver com ele quando tinha dez anos, em Paris. Não era o género dele ficar na sala na conversa ou ir para o sofá assistir a um jogo de futebol. Jantava e ia para o quarto ler o que tinha a ler.

Como é que relaxava?Ele não relaxava, era um workaholic. Nunca a o vi estendido numa poltrona a espreguiçar-se.

Nem aos fins-de-semana?
Sexta-feira à noite saía sempre. Jantava com amigos, bebia um uísquezinho e ia dançar para a discoteca. Sábado de manhã dormia até tarde e eu ficava todo contente.
Só queria que ele dormisse o mais possível para não vir ter comigo e perguntar se tinha trabalhos de casa. Domingo de manhã também ficava a dormir.
Depois íamos sempre ao cemitério onde estava sepultada a minha avó, mãe dele, limpar a campa e deixar lá umas flores. Mais tarde íamos comprar selos - ele fazia colecção, era a distracção dele.

Disse na altura do DocLisboa que este filme era uma maneira dos seus filhos saberem quem é o avô. Essa tarefa foi bem-sucedida?Eles não conheceram o avô e ainda são muito pequeninos. Mas vão perceber mais tarde. Tinha a sensação de que este documentário era urgente, filmava-o agora ou nunca. Muitas das pessoas que falam nele já não são novas e não vão ficar cá para sempre. Tinha de fazer isto agora.

Não é vulgar um filho fazer um filme sobre o pai.Mas quem mais indicado?

Fez o filme porque o queria conhecer melhor?Premeditadamente não. Sempre tive uma relação pai-filho normal, mas depois ele morreu muito de repente. E de súbito ficou um buraco. Mesmo com as nossas diferenças e conflitos, um pai é um pai.
Tudo aquilo que depois eu vim a descobrir depois com este documentário não muda a minha impressão dele. Sim, dá-me uma impressão mais global do homem que ele foi e a vida que teve, mas não muda nada o amor que sentia por ele.

Incentivou-o a seguir uma carreira artística?Não, ele queria é que eu fizesse alguma coisa.

in "I" Noticias



Os fados de Alain Oulman (com e sem Amália)
Além do autor de «Gaivota» ou «Maria Lisboa», no documentário «Com que Voz» Alain Oulman é acima de tudo o homem que marcou a vida de todos aqueles com quem se cruzou. O SAPO foi falar com o seu filho Nicholas, realizador deste filme de memórias.


Desenvolvimento
As irmãs recordam a infância, a trágica morte do irmão mais velho na Segunda Guerra Mundial que transferiu para Alain Oulman as expectativas familiares. A esposa fala do empenho desmesurado nas suas paixões criativas: a música mas também o teatro. Amos Oz recorda um editor que procurava exaustivamente (e até musicalmente) a melhor tradução para os seus livros.
«Alain Oulman – Com Que Voz» é o retrato abrangente de um homem que, ao longo da sua vida, conseguiu deixar uma boa e duradoura recordação junto daqueles com quem se cruzou, em diferentes áreas.
Um retrato que, segundo Nicholas Oulman, seu filho e realizador deste filme, fazia falta.
Tudo começou com um convite do Museu do Fado para uma exposição. A pesquisa nos arquivos familiares foi apenas o início do projecto. Nicholas partiu em busca das memórias que os outros guardavam do seu pai: o compositor que abriu novos caminhos para Amália, e lhe ofereceu novos fados; o encenador com uma sensibilidade e empenho exemplares; o editor, na francesa Calmann-Levy, de escritores de prestígio internacional.
Cada recordação lança pistas para conhecer o percurso de Alain Oulman e, ao mesmo tempo, para acompanhar diferentes épocas da história portuguesa.
Mas é, apesar de tudo, a figura de Amália a mais constante.
Foi para ela que Oulman compôs os eternos «Abandono» ou «Alfama», e foi ela quem deu a melhor das vozes às suas melodias.
Amália considerava-o um dos seus «anjinhos da guarda» e, na verdade, a carreira da fadista não seria a mesma sem a contribuição de Alain. O homem discreto que se tornou responsável por uma das mais marcantes rupturas na música portuguesa.

SAPO Cinema - 28-01-2011 11:00
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